domingo, 24 de fevereiro de 2013

LETRAMENTO: algumas reflexões



FARGAS, Joaquín. Princípio Estocástico: Espaço/Tempo/Probabilidade, 2012.


A palavra letramento surge como um desafio no processo de apreensão e significação do conhecimento: não basta entender e repetir aquilo que já se estabeleceu e se consolidou, é essencial que o conjunto do que foi apreendido possa qualificar a ação do indivíduo. Deste modo, letrar-se significa empreender uma forma diferente de atuação, utilizando aquilo que foi apreendido e que, assim, ganha significação.
No que tange aos modos atuais de relação do indivíduo com o mundo, com as coisas e pessoas e, por conseguinte com o conhecimento, efetuados pelo aparato tecnológico informacional e comunicacional, entendo que existem dois letramentos necessários. O primeiro diz respeito ao acesso ao aparato e a adequação de seu uso. O segundo, ao meu modo de pensar, mais interessante e urgente, surge da reflexão sobre a tecnologia em nosso tempo. Sem querer colocar-me, como no dizer de Umberto Eco, de modo apocalíptico, precisamos refletir sobre como a tecnologia
1)    se torna fascinação e como esta reverbera o mito de Narciso: “O que importa nesse mito (Narciso) é o fato de que os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios.” (MacLuhan, 2001, p. 59)
2)    promove o fechamento ou deslocamento de percepções: “É a contínua adoção de nossa própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso da consciência e do adormecimento subliminar em relação à imagem de nós mesmos.” (MacLuhan, 2001, p. 64)
3)    proporciona um envolvimento sinestésico, mas não especializado, que chama atenção para o meio e não para o conteúdo do meio, pois “o próprio meio é a mensagem” e conforma o que deve ser pensado e vivenciado, se relacionando com “o mundo num estado de espirito antitético à cultura letrada” (MacLuhan, 2001, p. 376)
Em virtude deste pensamento, um educador letrado digitalmente será aquele capaz não só de empregar as ferramentas, os recursos e os instrumentos em suas potencialidades, mas de adentrar a opacidade do aparato tecnológico e, munido de criticidade, refletir sobre as novas conformações do estado de ser e estar no mundo, visando um modo de pensar e atuar não alienado, mas autêntico.
A construção e/ou significação de saberes atualmente inclui uma conformação que se pode encontrar no hipertexto proporcionado pela tecnologia digital informacional, uma “característica multidimensional, dinâmica, esta capacidade de adaptação fina às situações que os tornam para além da escrita estática e linear.” (Lévy, 1993, p. 39). Similarmente, o aprendizado de qualquer conteúdo deve se estabelecer assim: dinamicamente associado a outros saberes, criando uma rede de conexões entre as diversas áreas de atuação humana.
O que na realidade consiste numa prática pedagógica de excelência não é o uso deste ou daquele recurso em específico, mas o quanto os recursos possam promover autonomia e criticidade ao indivíduo. O que se quer aqui dizer é que se de alguma forma o aparato tecnológico se torna modo e recurso para a construção dessa autonomia e dessa criticidade ele é bem vindo. O uso das ferramentas e recursos tecnológicos será ainda mais promissor se em nossa prática pedagógica retroalimentam uma ação de criticidade sobre o uso diário da tecnologia e sobre a necessidade de entendimento da natureza das relações conformadas nesse uso, incluindo-se o mundo do conhecimento.
Sobre se me considero um educador letrado digitalmente, devo dizer que daquilo que compete ao conhecimento de cada ferramenta em específico sou um verdadeiro desastre. Conheço muito das potencialidades das ferramentas pelo estudo do uso da tecnologia na arte e, em virtude disso, estudo as relações advindas das potencialidades do uso do aparato tecnológico. Reconheço, no entanto, que meu campo de estudo é mais teórico e crítico.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mario Quintana